sexta-feira, 16 de maio de 2008

EX-CLAMAÇÕES

Difícil falar do que ando sentindo, um “desestar”, não é bem estar, nem mal estar, simplesmente não estou, não estou aqui, não estou em mim, nem em qualquer outro lugar. Vinha hoje por um caminho diferente, somente pra mudar a rotina, fui parar perto das indústrias, tinha uma moça passando mal, ela e sua enorme barriga de uns sete meses, que mais pareciam 12, ela ali botando seus bofes e males pra fora e eu pensando, será que a próxima serei eu? Mas eu estou ausente, chegando a lugar algum, sem muita vontade de ir e vir, só esperando, esperando, quem sabe um acontecimento ou um nascimento, só sei que espero, todo esse “desestar” me causa desconforto, por não admitir o morno, e precisar do que ferve, caso contrário adoeço mesmo, por pura tristeza.

Um instante


Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente

Ferreira Gullar

quinta-feira, 15 de maio de 2008

FINDOU

Naquela manhã cinzenta, cheia de ais e lampejos, as últimas manhãs tem sido assim, mas ainda sim, teria de calçar as sandálias e ir embora da casa dele, ainda que por dentro o peito apertasse o choro, faltava pouco pra saltar boca à fora e gritar um grito de socorro, naquela manhã ela era toda gritos contidos, aquela vontade de conversar, discutir relação, explicar o inexplicável amor que sentia por ele, que antes mandá-la sair fez questão de exigir a cópia da chave de volta, não a queria mais, era assunto encerrado, e ela ali, prostrada na cadeira, pensando nos dois anos que passou naquela cama, e se deu conta que ainda usavam o mesmo lençol, pensou em comprar um novo, mas a realidade falou mais alto e a fez lembrar que ela não estaria ali nem pra saber do frio da próxima manhã, agora precisava arrumar outro lugar para dormir e chorar.

EU SEI QUE VOU TE AMAR

"Você me chamou por telefone. Dois anos juntos e dois meses sem te ver... Quando eu ouço a tua voz o mundo se acalma.. A tua voz vem calma no telefone, e eu fico toda protegida com falso tom de bondade que a tua voz assume. Corro pra vc em pânico e sei que vc vai me receber sólido e amigo. E que pouco a pouco vai provar que vc é o porto seguro, e eu a Galera enlouquecida... Eu sei, mas eu suportarei a humilhação pra poder ver teus olhos e pensar... MEU HOMEM, MEU HOMEM, MEU HOMEM PERDIDO E SEMPRE! ETERNAMENTE MEU HOMEM... mas eu vou te enfraquecer e no fim da noite vc vai estar caído feito um João Ninguém. Eu ajeitarei o batom, o salto alto, e partirei pensando: Dorme meu homem. Dorme my Baby. That's my boy! E vou voltar sozinha pro mundo, onde tudo gira feito um carnaval de Arlequim, e vou ficar infeliz feito um nada..........."

ARNALDO JABOR

TRÊS

Originalmente gravada por Marina Lima, essa música, também cantada por Ana Carolina e agora com Adriana Calcanhotto, no disco Maré.


Um
Foi grande o meu amor
Não sei o que me deu
Quem inventou fui eu
Fiz de você meu sol
Da noite primordial
E o mundo fora nós
Se resumia até de pó
Quando em você
Tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
Não basta um só amor
Não sei como explicar
Um só sempre é demais
Pra seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer naufragar
Não há lugar pra lamúrias
Essas não caem
Não caem bem
Não há lugar pra calúnias
Mas por que não nos reinventar

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo
Junto ao mar

quarta-feira, 14 de maio de 2008

SEU PENSAMENTO

A uma hora dessas
por onde estará seu pensamento
Terá os pés na terra
ou vento no cabelo?

A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?

Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?

A uma hora dessas
por onde vagará seu pensamento
Terá os pés na areia
em pleno apartamento?

A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?

Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?