sábado, 8 de maio de 2010

Luto Transparente

Logo após saber que estava grávida vim aqui e depositei todos os meus sentimentos, hoje os motivos são outros, há 20 dias sofri um aborto espontâneo, não há palavras para explicar o que eu sinto, pessoas me olham com pena, outras com desdem, algo como "você é nova, logo terá outro" bem no momento não quero outro, quero o meu bebê que escorreu pelas minhas pernas, em meio a sussurros de "será que ela tá perdendo o bebê", "vamos ver se ficou algum resto" enfim, essas são as pérolas que a gente acaba ouvindo senão da família, dos médicos, não importa o quanto eu seja amada pelos meus pais, amigos, pelo pai dessa criança, nada nem ninguém está dentro de mim para ver o buraco que ficou, uma gestação interrompida é como se seu corpo se recusasse a guardar seu próprio fruto, e você chora e sente raiva de Deus e do mundo, porque não há consolo nem reparação à uma situação dessas, e quando me dizem ou eu mesma justifico o que houve com um "Deus sabe o que faz" confesso estar sendo a mais hipocrita do mundo pois se era para tirá-lo de mim por que me deu? Qual aprendizado eu deveria tirar dessa perda? No momento vivo fingindo superação e que creio que a vida continua numa boa, por dentro vivo o luto e a tristeza de que daqui há 7 meses eu não terei meu filho nos braços. Não falo mais disso com ninguém, ontem foi a última vez, eu me decepcionei com a reação da pessoa que deveria ter chorado comigo, mas paciência, ninguém tem obrigação de sofrer por isso, quando eu descobri minha gravidez eu escrevi que tinha uma certeza dentro de mim, que seria somente eu e meu bebê, hoje sou eu e a falta dele.

Através da Revista Criativa eu conheci o trabalho da Manuela Pontes, ela passou por dois abortos e criou o Projeto Artémis que é um grupo de apoio às mulheres que passaram por este drama, eu diria que trata da humanização da dor de quem sofre o aborto.

Amanhã é dia das mães eu vou me aninhar com a minha mãe e minha avó e pedir a Deus que seja mais misericordioso comigo no momento em que eu clamar, eu clamei pela vida do meu bebê, mas não foi o bastante para Ele permitir que meu filho vivesse.

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